sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Uma rosa no escuro

Então, ela chega e me consome
Chega sem aviso e sem nome.
Nego, renego, sossego, fico cego
Mas sozinho novamente me pego

Descendo do céu aos guetos
Buscando nas ruas, nos becos
Atrás de algo que não conheço
Sem um guia, sem um endereço

Sigo então essa rua sem fim
Que diz tão pouco pra mim.
Cansado, arrastando meus ossos
Faço meu caminho nos destroços

Luto, reluto, fico de luto
Mordo o podre do fruto
Cuspo no primeiro momento
Desejo, volúpia e arrependimento

Mas logo saboreio o azedo da fruta
Agora sem mais nenhuma luta
Percorro os labirintos do inferno
Passo a conhecer os salões internos

A passear nos ermos mais escuros
Trago comigo a consciência dos impuros
O medo daquele que vai ao combate
E a sutileza noturna de um covarde.

domingo, 18 de setembro de 2011

Última estação

A cada instante me espanto
O sonho perdido pelos cantos
O grito que ecoa no beco
Um estampido que soa a seco

O tempo escorre pelos dedos
O uivo, o torpor e o medo
Um zumbir na madrugada
Uma criança desamparada

O corre-corre dos sapatos
Um carro no asfalto
A luz que ofusca
O corpo que ali ocupa

O colorido no chão
O espesso esparramado
O leite chorado
E a última estação