terça-feira, 24 de abril de 2012

O lobo e o cão





Estar tudo perdido
Meu herói é bandido
O bandido é meu irmão
Uiva o lobo, chora o cão



Aos gritos a caravana passa
Joga a graça, come a traça

Perpetuam-se na inanição

Lambuza-se o lobo, dorme o cão


Às escuras fazem assembléia
Convocam toda alcatéia

Do palco jogam o pão  

Sorri o lobo, rói o cão


Pirento, coçando as sarnas
Sem pluma, sem barba

Perdido na ilusão
Caçoa o lobo, sofre o cão


Seu dono saiu,

Não viu a mãe que o pariu
Sem pedigree, sem educação

Canta o lobo a morte do cão

  

terça-feira, 20 de março de 2012

Achados e Perdidos

Trago marcas em meu peito
Já caí ferido em meu leito
Já lutei nas noites sem lua
Já me perdi pelas ruas

Já viajei no silêncio do quarto
Já queimei todos os retratos
Já fiz juras que nunca mais
Já saí sem olhar pra trás

Já achei o que não procurava
Já cantei enquanto me queimava
Já duvidei que ainda podia

Já procurei por um sorriso
Já encontrei tudo isso
Na incerteza, na tristeza na alegria.

terça-feira, 6 de março de 2012

Águas de carnaval

Desfez-se o sorriso no horizonte
Entardecer, na revoada das garças
O sol despedia-se por trás do monte
O tempo perdia-se nas asas

A chuva ensopou aquela decepção
Nada sobrou daquela fuga
Ensopou roupa perdeu-se a noção
O que antes claro agora turva

A incerteza do futuro era presente
O presente infinito era amargo
E toda volta era ausente

O beijo agora com gosto de escarro
O desejo único, último e verdadeiro
Naquela tarde molhada de fevereiro